Venâncio Mondlane é um "homem a abater", escolhido pelo povo moçambicano

Venâncio Mondlane é um "homem a abater", escolhido pelo povo moçambicano


Em entrevista feito pela DW, o estudioso Fernando Cardoso acredita que o candidato presidencial Venâncio Mondlane "precisa proteger-se". O especialista avisa que existem figuras em Moçambique interessadas em eliminar o opositor. Pouco após o partido no poder, a FRELIMO, ter acusado Mondlane de abandonar os seus apoiantes em um momento crítico para buscar o conforto da diáspora, o candidato anunciou sua participação na manifestação contra a alegada fraude eleitoral de 7 de novembro, em consequência das eleições de 9 de outubro.

O académico português Fernando Cardoso considera que Mondlane faz bem em se proteger, mas a narrativa de que "abandonou o barco" serve, segundo ele, para atraí-lo a uma armadilha.

Cardoso enfatiza que Mondlane é considerado "um alvo a ser eliminado", destacando que "a FRELIMO de hoje carece de ética".

Venâncio Mondlane está em risco de vida?

Fernando Cardoso (FC): Se Venâncio Mondlane não se resguardar agora, vão tentar matá-lo. Não tenho dúvidas. Venâncio Mondlane não conta com uma estrutura por trás. Ele não é a RENAMO. Ele faz parte de um partido recém-formado e sem presença nacional, o PODEMOS. Mondlane representa um descontentamento geral no país e tem conquistado grande apoio. Com seu carisma e capacidade de comunicar de forma acessível, ele é visto como um "alvo a ser eliminado".

A FRELIMO, partido governante, teria coragem de eliminar Mondlane após os assassinatos de Elvino Dias e Paulo Cuambe, que geraram forte repúdio?

FC: Acredito que o regime não teria qualquer escrúpulo em fazê-lo e depois negar, sabendo que Mondlane não conta com um suporte de grande escala. A História confirma isso. No momento, a principal intenção de quem comanda a FRELIMO é localizar Mondlane. 

Qualquer provocação que façam para o incitar ou atingir seu orgulho tem essa finalidade. Não tenho qualquer dúvida. Portanto, considero que Mondlane deve realmente proteger-se e evitar aparições públicas.

Em tempos passados, os [dissidentes] estavam fora do país, em Dar-es-Salaam e outros lugares. A FRELIMO sob Samora [Machel] possuía algo que a atual carece: ética. Atualmente, a liderança da FRELIMO tem mostrado que falta ética e já provou isso. É um grupo que busca dominar os negócios do país e continuar governando conforme seus interesses, enganando quando necessário.

A forma de lidar com opositores continua a mesma?

FC: Não, mas desde 2014, com a morte de Carlos Cardoso, esse método permanece. O surgimento dos chamados "esquadrões da morte" é um fenômeno recente, deste século. Antes, os métodos não iam tão longe. 

Desde que a FRELIMO começou a perder o apoio popular genuíno, recorreu a medidas mais drásticas, embora em outros períodos também tenha havido fases obscuras. 

Refiro-me aos esquadrões organizados para eliminar pessoas vistas como indesejadas. Isso é algo que não se verificava desde o início da FRELIMO, mas desde o governo de Armando Guebuza.

FC: Considero que Venâncio Mondlane deve prosseguir sua luta em um lugar onde possa fazê-lo sem risco de eliminação. Tanto fora quanto dentro do país, há riscos, mas fora as ameaças são menores e dependem do local em que ele se encontra.



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